sábado, 12 de março de 2011

Máscaras


Como se houvesse multiplicado por vezes a saudade, passara aqueles quatro dias, em especial, com o pensamento fixo nele, vislumbrando um encontro que por vezes parecia prenúncio de perda.
A fixação involuntária e irremediável transcendera a realidade consciente e tomara conta também dos sonhos... e por duas noites sequentes vira seu sono ser invadido por imagens e momentos desconexos.
Um desencontro em meio a uma multidão, sucedido pela sensação de um inocente beijo, que acalmara alma e plantara em seu ser a esperança de um desfecho próximo e favorável.
Todavia, eram bem mais que devaneios, e os dias seguintes seriam esclarecedores.
Aquela velha afirmação de que mulheres possuem sexto sentido, encaixara-se nela como luva... ou melhor, ela agora tinha certeza que possuia sete, nove talvez.
Inerte, olhos fixos e rasos d´agua assistiam aquele que outrora protagonizara seus sonhos, ensaiar cenas reais e românticas, cenários... e se ela era apenas uma espectadora, só poderia significar uma coisa: havia outra atuando, nova atriz encenando ao lado do seu moçinho. Infeliz constatação.
O pesadelo! Agora não poderia ser mais chamado de sonho. Ela o havia perdido em meio a multidão... agora fazia sentido, todo sentido do mundo.
Não preciso nem dizer que um verdadeiro luto estabelecera em seu ser. Olhos vermelhos, a dor naquele momento nada tinha de abstrato, tomara forma, corroía, dilacerava, fazia sangrar...
Contudo, nada dura eternamente, olhos racionais haveriam de driblar a emoção, a fim de analisar mais criticamente aquele script e antever os próximos capítulos (as estórias atuais são tão previsíveis)...
Recomposta, olhos molhados apenas pela lubrificação natural, chegara a conclusão de que tudo não passara de um mero capricho de um autor principiante, criativo talvez, que invadira a sua história com um blefe soberbo... e repetia para si mesmo:
- Nada te atingirás se não deixares! Acalma-te, ninguém representa infinitamente.
Ela agora preocupava-se em decifrar o outro sonho, o que significaria aquele beijo?
Ao menos a sensação que tomara-na ao acordar era agradabilíssima.
Confesso-vos sou amante incondicional do ponto final, ele é decisivo, por vezes encerra histórias felizes, outras nem tanto, mas possibilita-nos um lado ou outro do muro. Mas, como essa narrativa parece-me distante de um desfecho...

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