sexta-feira, 18 de março de 2011

De lhe pra te


Certas coisas praticamente me coagem a escrever, a chuva, que timidamente se espalha lá fora, tornou-se uma destas. Devo confessar, gostaria doutro cenário. Minha casa na roça, de telhado simples, nenhuma laje, que dá a sensação de que a chuva toca-nos sem molhar, e ao atingir as telhas ensaiam melodias, e o cheirinho, ao embriagar a terra... cheirinho de terra molhada. O asfalto não me permite. Mas vamos a história...
Sob aquela f'rondosa árvore, que não saberei denunciar a espécie, perdoem-me. Sentados num banquinho também de madeira, rústico, inacabado, comtemplavam-se frente a frente, sem nenhuma palavra. Conheciam-se como aquela árvore conhecia a terra que há tantos anos guardava nas entranhas suas raízes, ainda assim imperava o silêncio, déspota, absoluto.
Mas seus pensamentos gritavam como loucos, ensaiavam voos, passos de dança, queriam sair em disparada, feito menino traquino. E, a tal euforia podia ser explicada, já que o mesmo cenário de agora, outrora fora palco de longos beijos, carinhos, palavras... agora transformados naquela inação quase fúnebre.
Por fim e por tudo, resolveram romper o silêncio. Surpreendentemente começara ele a expelir seus medos metodicamente... enumerou suas dúvidas, confessou suas fraquezas. Discorreu da solidão que por vezes pareceu insuportável, do vazio, do receio de entregar-se sem pudores (talvez resquícios de amores mal sucedidos), tornara-se translúcido perante ela.
Instaurou-se nova e breve pausa, prontamente quebrada pelo início da dissertação dela, que mais específica, minunciosa, principiou... afirmou-lhe a já conhecida falta de solidez, responsável pelas noites em claro, lágrimas e ciúmes incoercíveis, narrando cada fato. Citou cada uma de suas carências... faltava-lhe presença física e dialogada, esta última além de escassa, era impassível. Visivelmente confusa, entrelaçava os fatos, a voz falhava, era possível ver que as lágrimas teimosamente insistiam em brotar, enquanto ela visando demonstrar firmeza, tentava estancá-las.
Era evidente o desejo de findar aquele impasse. Alí, onde tudo começara, deveria ser o tablado do recomeço, que poderia concretizar a distância que já havia entre eles, ou encurtá-la, a ponto de torná-los tão próximos que seria impossível mensurar suas extremidades.
Ele, num afago, toma-na e aperta contra seu peito que de ânsia bruscamente afasta-se rubra, insípida, descrente, temerosa... mas sente a mão dele, tocar as suas, fazendo-na cessar, virando-na para si.
Haviam crescido, certas frivolidades não mais pertenciam-lhes. Até então, brincaram um perigoso esconde esconde de sentimentos, decisões, onde o único a ser encontrado fora o sofrimento. Não concernia-lhes adiar mais.
E os olhares encontraram-se fulminantes, os lábios convulcionavam-se, assim como as pernas... e fitaram-se longamente, visando uma sentença, que, permitam-me a franqueza: O desenrolar dos fatos, e o conhecimento prévio, respaldam-me a apostar num adiamento de definições, e saciar de beijos, cheiros e pernas.

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