sábado, 24 de setembro de 2011

Labirinto d´alma


Qual a distância entre aquilo que proferimos, muitas vezes por convenção, e o que realmente prevalece em nós?
Um abismo profundo e obscuro, diria.
Sentada na janela, ela vira os últimos dias passarem. Veja bem, não se assustem. Quando falo, últimos dias refiro-me aos que antecederam o hoje, numa perspectiva mais próxima, quatro ou cinco anos talvez, vislumbrando os próximos, posto que, a personagem em questão não está com os dias contados. Mas, voltemos á história...
Vislumbrara ela, de uma vista privilegiada pode-se dizer, momentos adversos. Altos, baixos, incoerentes, fixos, tumultuados...
A vista que a janela possibilitara não era uma qualquer. Era a porta d´alma, via-se límpida, transparente, como uma aura inviolada... enxergava as contradições que a própria boca proferia, repito-me, muitas vezes por convenção, subjugou os próprios desejos, tentou ludibriar-se, na tentativa de fazer-se crer, coisas inacreditáveis.
Fez-se satisfeita todas as vezes que ao voltar ouviu-lhe perguntar apenas o porque do sumiço, quando sempre sonhou em ouvir que ele sentira saudades. Mentiu para si mesma quando disse não se importar com o fato de estarem online por várias horas e não trocarem uma palavra, mentiu e fora orgulhosa, pobre flor, não poderia ela fazê-lo já que no íntimo desejava? Dizia, veemente que não desejara o seu amor, e outras coisas simples como andar por aí de mãos dadas, dormir de conçhinha, ou contra o peito dele enquanto tinha os cabelos afagados... e mais, que nunca sonhou que a inconstância virasse fato, que as interrogações virassem sentimento, recíproco, bonito, formal...
Não cabe-nos julgá-la. É certo que todas as tentativas previamente descritas foram inúteis. Era apenas o modo que encontrara para guardar à chave, a caixinha de seus segredos. E, bem mais do que seus verdadeiros desejos, sabia que muitos ou a totalidade deles, não passavam de devaneios, por isso a tentativas de tratá-los como tal, não expô-los.
Vejam, não foi fácil o momento em que ela entregara-me seu diário, seus segredos. Contar-me tudo era quebrar um cristal frágil, era romper com uma ideia que, mesmo ilusória, alimentava-a...
Ela continua na janela, o que enxerga, depois de hoje, eu não sei dizer-lhes.

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